segunda-feira, 14 de março de 2011

JORNALÍSTAS DA VEJA VISITAM BALSAS: Velhas fronteiras são obstáculo ao desenvolvimento


O site de VEJA visitou a região do Mapitoba para entender como o desenvolvimento avança a despeito de fronteiras entre estados e regiões que impõem custos aos empreendedores

Por Beatriz Ferrari, da Veja:

A mais nova e promissora fronteira agrícola brasileira, responsável por 8% da produção nacional de grãos, é um exemplo de como um modo antigo de pensar o Brasil serve de entrave para que toda uma região atinja ao máximo seu potencial econômico. A imensa área visitada pelo site de VEJA, conhecida por Mapitoba, abrange bolsões de prosperidade, baseados no agronegócio, que se espalham pelo sul do Maranhão e Piauí, o oeste baiano e o norte de Tocantins. Por lá, ao lado de plantações de grãos mecanizadas e altamente produtivas, encontram-se cidades que crescem desordenadamente e sem infra-estrutura adequada, estradas esburacadas, e outras deficiências. Menos como consequência da súbita pujança econômica, o quadro contraditório decorre, principalmente, da incapacidade do país de resolver os problemas comuns de regiões cujo crescimento não obedece a fronteiras (veja quadro).

Plantação de soja em Balsas. Fotos: Cristiano Mariz/Veja

Em vez de se unirem em torno de soluções que beneficiem vastos territórios, os governantes de cada estado perpetuam a antiga fórmula de fazer política que se pauta exclusivamente pelos interesses locais – com frequência, os puramente eleitoreiros. Por esta visão, o estado ao lado, longe de ser parceiro no desenvolvimento, é visto como um concorrente. As fronteiras, longe de ser apenas divisões administrativas, indicam onde termina o espaço de um grupo político e onde começa o do outro.

As verdadeiras regiões

O recorte geográfico oferecido por Matopiba – reconhecido, inclusive, pelo Ministério da Agricultura – ilustra a verdadeira regionalização brasileira. “Uma análise mais aprofundada do mapa do Brasil sugere regiões que hoje a divisão político-administrativa original não alcança”, explica Antônio Carlos Galvão, coordenador de um trabalho, feito em 2008 pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), que propõe um Brasil dividido em vários centros econômicos.

O conjunto das políticas públicas não acompanha a velocidade das mudanças impostas pela economia, resultando em ações isoladas e desarticuladas. Esta é a conclusão de uma pesquisa realizada no ano passado pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal). O estudo apontou que, embora haja no Brasil o reconhecimento de algumas autoridades da necessidade de uma agenda regional, esta ainda é ampla demais e descoordenada, com várias iniciativas sobrepostas, desentrosadas e concorrentes.

Custo político

Na raiz do problema, estão interesses nada nobres. Nos estados, o que, em geral, rege as políticas públicas para o desenvolvimento é o voto. Por essa lógica, passada a fronteira, o problema é alheio. “São brigas provincianas. Se extrapolarmos um pouco, vamos ver que é a mesma razão do fracasso do Mercosul, onde cada um quer tirar vantagem para si, em vez de pensar em política comum”, avalia Luís Felipe D’Ávila, presidente do Centro de Liderança Pública.

Enquanto isso não se resolve, quem sofre com a inércia do poder público são os produtores, bem como a população local. A história do agricultor Altair Branco é um exemplo disso. O baixo preço das terras do cerrado nordestino, banhadas por chuvas regulares, chamou sua atenção ainda na década de 80 para a região do Mapitoba. Atraído pela possibilidade de expandir a lavoura de soja, Altair vendeu casa e carro no Mato Grosso do Sul, onde era arrendatário, e comprou três mil hectares em São Miguel da Baixa Grande, no Piauí, em 1989. A região começava a despertar para a agricultura mecanizada de larga escala, depois que os vizinhos Maranhão e Bahia já haviam comprovado o potencial daquelas terras. Depois do Piauí, o Tocantins, mais recentemente, tem visto avançar o cultivo de grãos. Hoje, além dos primeiros agricultores, já estão instaladas ali agroindústrias, como as multinacionais Bunge e Cargill. O problema é que, embora o agronegócio tenha emprestado dinamismo à região há 30 anos, a implantação da infraestrutura necessária para impulsionar de vez a economia local ainda caminha a passos lentos.

O agricultor relata que, até hoje, muitas fazendas no estado funcionam com geradores de energia, pois não há linhas de transmissão. Em alguns lugares, acrescenta Branco, a pavimentação e manutenção de estradas fica a cargo do setor privado – e não é por modelo de concessão. Por fim, ele lamenta que a região desenvolve-se de forma muito desigual, ao sabor dos interesses de cada governo estadual. “No Tocantins tem governo e no Piauí tem desgoverno”, diz ele. “Os governadores dos estados dessa região e suas bancadas precisam entender que estamos impondo uma incapacidade aos nossos produtores. Se quisermos transformar nossos estados em produtores viáveis, temos de nos integrar e trabalhar em conjunto”, diz a senadora Kátia Abreu (DEM-TO), presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

Setor privado tenta reagir

Enquanto o poder público não se articula, o setor privado corre contra o tempo para evitar perdas maiores. Na região produtora de grãos em torno do município de Luis Eduardo Magalhães (BA), a Associação de Produtores e Irrigantes da Bahia (Aiba) capitaneia um projeto de pavimentação de oito estradas vicinais para facilitar o escoamento da produção das fazendas. O projeto, orçado em 3,24 milhões de reais, terá seu custo rachado entre os fazendeiros (50%) e o governo estadual (50%).

Onde não existe tamanho engajamento do setor privado, o desenvolvimento fica à mercê dos interesses políticos na atividade e na região. O Maranhão, cuja produção de grãos concentra-se na cidade de Balsas, ilustra bem o problema. O porto de Itaqui, que fica no estado e é utilizado pelos produtores de Balsas – e também pelos do Tocantins, Mato Grosso e Piauí – para exportar a safra, não recebe investimentos há 18 anos e ainda não tem um terminal de grãos. A saída é de fazer uso de um terminal privativo da Vale, mediante pagamento. Os produtores reclamam que bastaria o governo abrir licitação para a construção do tão sonhado terminal e o problema, em poucos anos, se resolveria. “A viabilização da obra está na sola do sapato dos governantes do Maranhão, mas eles não a liberam porque não terão nenhum ganho com isso”, afirma um produtor.

Leia mais, veja infográficos e outras fotos aqui.



NO BLOG DO COMPANHEIRO DÉCIO, ALGUNS LEITORES JÁ FIZERAM COMENTÁRIOS À RESPEITO DO ASSINTO.


  1. eduardo campos

    E as estradas da região de Balsas que só são pavimentadas quando os produtores resolvem por conta propria fazerem o serviço q é de obrigação do governo do estado… sem contar q a MA q liga Balsas ao povoado BATAVO centro da produção de grão no maranhão é tida como asfaltada nos papeis mas o q se ver por ali são 220km de pura lama e buracos…eu passo por essa estrada 2vz por semana e sei bem o q digo…

  2. MOTA

    A região sul do maranhão na qual estão os municipios de Riachão, Feira Nova, Balsas, Nova Colinas, Fortaleza dos Nogueiras, Mangabeiras, Tasso Fragoso e outros, dá gosto se verificar nessa época o quanto produtiva é, mas ao mesmo tempo nos deixa um desanimo muito grande quando se verifica o sofrimento dos caminhoneiros para transportar tanta produção. Não existe estradas, a unica BR existente na região a BR 230 está praticamente cortada entre Riachão e Balsas, a MA 334 que liga Feira nova a Riachão vive a muito tempo abandonada, a unica recuperação que recebeu foi a três anos pelo então Governador Jakson, mas hoje está praticamente intrafegável. Enquanto isso, somos obrigados a ter que ouvir promessas e mais promessas no periodo eleitoral que essas obras são prioridade, mas quando passa a leeição ninguém mais fala, a não a população que reclama. Eita povo sofrido e pacifico, pois se é em outro lugar, já tinha acontecido muita coisa.

  3. CARLOS

    Caro Décio,

    Não existe desenvolvimento sem investimento, principalmente em infra estrutura. No caso do agronegócio é mais evidente esta necessidade. É necessario e urgente um planejamento com participação de todas as secretarias estaduais e poderes públicos das esferas municipais e federal. Avança Maranhão.

  4. Jacutinga

    O sul da Bahia, o sul do Maranhão e o sul do Piauí deveriam ser um único Estado. Só assim teriamos um Estado rico e recebendo investimentos, pois se for esperar pelos trogloditas do norte….

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